O Domínio do Norte

38 min de leitura 01 Dec, 2025
Chapter 2
O Domínio do Norte

O sol nascente derramava luz sobre as muralhas de Porto do Sol, trazendo à vida os intrincados mosaicos de conchas e pedras coloridas que adornavam seus altos portões. Vista de longe, a cidade parecia uma coroa de pedra e madeira descansando sobre as águas turquesa do mar, com seu enorme porto em forma de meia-lua abraçando dezenas de navios mercantes. Três grandes torres de vigilância, construídas com pedra branca que brilhava ao sol, montavam guarda sobre as docas, enquanto bandeiras azul-celeste com o símbolo da concha dourada tremulavam ao vento marítimo.

Do alto da colina mais próxima, Ranael observava a cidade portuária com o olhar calculista de um predador diante da presa. Porto do Sol não era apenas uma conquista — era a chave para dominar todo o deserto do norte. O único acesso marítimo da região, a artéria pela qual fluíam as mercadorias e riquezas entre o deserto e o resto do mundo. Sem ele, os povos do deserto ficariam isolados, vulneráveis.

“Uma bela cidade”, observou Ul'ham, seu corcel negro postando-se ao lado do de Ranael. “E menos defendida do que eu esperava.”.

Ranael assentiu, seus olhos percorrendo as muralhas. “Eles sempre se fiaram em sua posição estratégica para proteção. Nenhum governante do norte jamais ousou atacá-los, pois todos dependem de seu comércio.”.

“Até hoje”, completou Ul'ham, seu martelo de guerra descansando transversalmente sobre a sela.

O exército combinado de Nakaran e Ygha estendia-se atrás deles como uma maré de metal e carne — um espetáculo imponente de setenta mil homens de Nakaran e vinte mil paladinos de Ygha, suas armaduras cintilando sob o sol da manhã. Estandartes vermelhos e branco de Nakaran mesclavam-se aos braco e dourados de Ygha, tremulando ao vento como presságios sangrentos.

Ao erguer a mão, Ranael silenciou imediatamente os sussurros entre os comandantes que o cercavam. “Enviem um mensageiro. Informem seu rei que aguardamos sua rendição.”.

Menos de uma hora depois, os imensos portões de Porto do Sol abriram-se lentamente. Um único homem emergiu — não um mensageiro como esperado, mas o próprio Rei Merith III de Porto do Sol. Era um homem de estatura média, com cabelos grisalhos e uma barba curta, bem aparada. Vestia túnicas azuis e douradas de seda fina, e uma coroa simples de prata adornada com pequenas pérolas repousava sobre sua cabeça. Seis guardas reais o seguiam a uma distância respeitosa, suas armaduras lustrosas e lanças perfeitamente alinhadas demonstrando um treinamento rigoroso, se não numeroso.

Ranael sorriu. Um governante que enfrentava pessoalmente ameaças — isso poderia ser aproveitado.

“Rei Merith de Porto do Sol”, saudou Ranael, avançando alguns metros à frente de suas tropas, acompanhado apenas por Ul'ham. A Lâmina da Alma permanecia embainhada em seu lado, embora sua presença fosse perceptível pela suave aura que emanava mesmo quando oculta. “É raro ver um rei que ainda tem coragem de enfrentar o perigo em primeira pessoa.”.

“Rei Ranael de Nakaran”, respondeu Merith com uma leve inclinação de cabeça, sua voz calma e diplomática. “Os portões de Porto do Sol sempre estiveram abertos para o comércio com o norte. Seu exército, no entanto, não parece interessado em negociações comerciais.”.

“Perspicaz”, Ranael sorriu, um gesto que não alcançava seus olhos. “De fato, não vim negociar mercadorias, mas territórios. Ou, para ser mais preciso, vim informar sobre a nova ordem do norte.”.

Um silêncio pesado instalou-se entre os dois grupos. O vento marítimo agitava as vestes e estandartes, enquanto gaivotas circulavam acima, seus gritos ocasionais pontuando o momento tenso.

“E que ordem seria essa?” perguntou Merith, sua compostura ainda intacta, embora um observador atento pudesse notar o ligeiro tremor em sua mão direita.

“O norte será unificado sob uma única bandeira — a minha”, declarou Ranael, sua voz carregando-se no vento para que todos ouvissem. “O deserto, com todas suas cidades, recursos e povos, fará parte deste novo reino. Incluindo Porto do Sol.”.

“Entendo”, respondeu Merith após um momento de consideração. “E o que propõe exatamente? Que nos tornemos um vassalo de Nakaran?”.

“Proponho que se renda completamente”, a voz de Ranael adquiriu um tom cortante. “Que entregue sua cidade, seu trono e sua lealdade. Em troca, seu povo será poupado”.

Enquanto falava, Ranael desembainhou uma pequena adaga que carregava na cintura. Com um movimento casual, passou a lâmina pela palma de sua mão esquerda, abrindo um corte superficial mas contínuo que imediatamente começou a sangrar. Merith observou o gesto com confusão.

“Temo que não possa aceitar esses termos, Rei Ranael”, disse Merith, erguendo o queixo em um gesto de dignidade. “Porto do Sol sempre foi independente e assim permanecerá. Estamos dispostos a negociar acordos comerciais favoráveis, mas não submissão”.

Ranael sorriu novamente, desta vez um sorriso genuíno que enviou calafrios pela espinha dos guardas que observavam. “Receio que tenha entendido mal, Merith. Não vim oferecer uma escolha”.

Em um movimento tão rápido que os guardas mal puderam registrar, Ranael desembainhou a Lâmina da Alma. O metal antigo brilhou com uma luz sobrenatural quando cortou o ar em um arco perfeito, decepando a cabeça de Merith com um único golpe limpo. Por um segundo, houve apenas choque e silêncio absoluto. Então, dois fenômenos simultâneos ocorreram diante dos olhos horrorizados das testemunhas.

O corpo de Merith começou a secar como uma fruta ao sol, com a umidade sendo drenada rapidamente, transformando-o em uma carcaça ressecada em questão de segundos. Ao mesmo tempo, o corte que Ranael havia feito em sua própria mão fechou-se completamente, a pele regenerando-se diante dos olhos de todos, sem deixar sequer uma cicatriz.

“A Lâmina da Alma”, sussurrou Ul'ham ao lado dele, “cumpre sua promessa”.

Os guardas de Porto do Sol, testemunhando o horror sobrenatural, romperam formação e fugiram em pânico para o interior da cidade, gritando sobre a magia negra que viram. Seus gritos de aviso, entretanto, chegaram tarde demais. Ao sinal de Ranael, a primeira linha de paladinos de Ygha já avançava em formação perfeita, seguida pelas tropas de Nakaran, uma onda implacável de metal e determinação.

“General Khorsav”, chamou Ranael, ainda observando com fascínio sua mão perfeitamente curada, “tome Porto do Sol. Não quero destruição desnecessária de propriedade ou infraestrutura. Quanto aos líderes…”. Seu olhar caiu sobre o corpo ressecado de Merith, “nenhum sobrevive”.

“Como ordena, meu rei”, respondeu o veterano general, antes de virar seu cavalo e começar a gritar ordens.

Quando Ranael finalmente ergueu os olhos, encontrou Ul'ham observando-o com uma expressão indecifrável. “Impressionado?” perguntou Ranael.

“Considerando que a lâmina esteve sob proteção de Ygha por sete gerações, e nunca a vimos em ação”, respondeu o paladino, “sim, estou impressionado. E agora compreendo melhor por que nossos ancestrais a guardavam com tanta reverência”.

Ranael embainhou a lâmina, sentindo seu poder pulsando contra seu quadril mesmo através da bainha. “Esta é apenas uma amostra do que conquistaremos juntos, meu amigo. Hoje, Porto do Sol. Amanhã, todo o deserto. E depois…”

“O sul”, completou Ul'ham, seu olhar voltando-se para a cidade que agora sucumbia rapidamente ante o avanço inexorável de suas forças combinadas.

A queda de Porto do Sol tornou-se o modelo para as conquistas que se seguiriam. Nos dias subsequentes, as forças combinadas de Ranael e Ul'ham avançaram pelo deserto norte com uma eficiência brutal e metodológica. A notícia do que havia acontecido com o Rei Merith — e os rumores sobre a arma sobrenatural que Ranael portava — espalharam-se rapidamente, precedendo o exército como uma onda de terror.

A cidade de Dunas Prateadas, conhecida por suas minas de sal e prata, foi a segunda a cair. Uma formação de cinco mil paladinos de Ygha, suas armaduras negras refletindo o sol impiedoso do deserto, marcharam em formação perfeita contra os muros da cidade. Não houve necessidade de máquinas de cerco ou táticas elaboradas — os paladinos, canalizando o poder divino de Uormu e Drakkare, simplesmente avançaram em sincronia absoluta, seus martelos e maças golpeando os portões em um único impacto devastador que estilhaçou madeira e metal como se fosse papel.

Dentro, a resistência foi rapidamente esmagada. Ranael e Ul'ham lideraram pessoalmente o ataque, movendo-se como uma única força destruidora através das ruas da cidade. A Lâmina da Alma cortava através de armaduras e carne com igual facilidade, enquanto o martelo de Ul'ham estilhaçava escudos e ossos com golpes precisos.

“Você luta como se tivesse nascido para guerra”, observou Ul'ham enquanto ambos descansavam brevemente após o combate, observando suas tropas garantirem o controle completo da cidade.

“E você luta como se a guerra fosse uma forma de oração”, respondeu Ranael, limpando o sangue da Lâmina da Alma com um pano de seda. Nem uma única marca ou arranhão maculava a superfície do metal antigo, apesar das dezenas de vidas que havia ceifado naquele dia. “Tenho que admitir, seus paladinos superam todas as histórias que ouvi sobre eles”.

Era verdade. Os guerreiros de Ygha moviam-se com uma disciplina e precisão sobrenaturais, como se cada esquadrão fosse um único organismo. Suas formações nunca quebravam, seus ataques coordenados com uma sincronicidade impossível para tropas normais. E os Sacerdotes combatentes eram igualmente impressionantes — canalizando a magia divina para curar feridos, fortalecer seus aliados ou lançar rajadas de luz ofuscante contra os inimigos.

Em cada cidade conquistada, o padrão se repetia: os líderes eram executados — muitas vezes pela própria mão de Ranael e sua lâmina sedenta por vida — e substituídos por comandantes leais de Nakaran, apoiados por unidades dedicadas à manutenção da ordem. As leis locais eram abolidas e substituídas pelo código de Nakaran, mais austero e militarizado. E sempre, antes de partir para a próxima conquista, Ranael garantia que estandartes com seu símbolo fossem hasteados em todos os edifícios importantes, um lembrete constante de quem era o novo senhor daquelas terras.

Alguns feudos menores, vendo o destino inevitável que os aguardava, tentaram se render voluntariamente. Vila dos besouros, um pequeno assentamento conhecido por seus tecelões, enviou emissários com presentes e promessas de lealdade eterna assim que o exército foi avistado no horizonte. Fontes Escarlates, um oásis próspero no coração do deserto, abriu seus portões e lançou flores aos pés dos cavalos dos invasores.

Não fez diferença. Ranael aceitava as rendições com cortesia fria, e então executava os líderes mesmo assim, substituindo-os por seus próprios homens. “A lealdade nascida do medo é como uma corda de areia”, explicou a Ul'ham após decapitar o governador de Fontes Escarlates, que havia se ajoelhado diante dele em submissão total. “Preciso cortar as raízes antigas para que novas lealdades possam florescer”.

A maioria das cidades caiu facilmente, subjugada pela força esmagadora e pela reputação crescente do exército invasor. Mas à medida que avançavam mais profundamente no território desértico, começaram a encontrar um tipo diferente de resistência.

A Liga dos Mercenários das Dunas não era um exército convencional. Formada por dezenas de clãs diferentes de guerreiros nômades, caçadores de recompensa e contrabandistas, a Liga operava nas sombras, usando seu conhecimento íntimo do terreno traiçoeiro do deserto profundo. Por gerações, haviam sido tanto uma pedra no sapato quanto um mal necessário para as cidades do deserto, oferecendo proteção em troca de pagamento, ou ameaçando aqueles que se recusavam a colaborar.

Quando o exército de Ranael alcançou Posto da Serpente, um entreposto comercial, descobriram os primeiros sinais de sua atividade. A caravana de suprimentos que deveria ter chegado dois dias antes havia desaparecido completamente — cinquenta carroças de alimentos, água e equipamentos, com duzentos soldados de escolta. Somente um mensageiro sobreviveu, enviado de volta em um estado lamentável: desidratado, com a língua cortada e uma mensagem gravada a fogo em suas costas: “O deserto não se rende”.

“Um impedimento temporário”, declarou Ranael ao conselho de guerra reunido na tenda de comando. “Enviaremos uma força maior com a próxima caravana”.

“Subestimar a Liga seria imprudente”, advertiu um dos capitães de Nakaran, um homem de rosto curtido pelo sol e cicatrizes nas mãos. “Eles conhecem o deserto melhor que ninguém. Cada duna, cada oásis escondido, cada passagem secreta. E têm os meios para desaparecer sem deixar rastros”.

A segunda caravana de suprimentos foi enviada com uma escolta de mil homens — quinhentos soldados de Nakaran e quinhentos paladinos de Ygha. Três dias depois, encontraram os cadáveres dos paladinos dispostos em um círculo perfeito ao redor de uma duna, suas armaduras intactas, mas seus corpos envenenados. Dos soldados de Nakaran e das carroças de suprimentos, não havia um único vestígio.

O avanço do exército começou a desacelerar. À medida que penetravam mais profundamente no deserto, longe das cidades costeiras e dos oásis conhecidos, as linhas de suprimento tornavam-se cada vez mais vulneráveis. Os poços de água ao longo da rota eram frequentemente encontrados envenenados ou completamente secos. Guias locais desapareciam durante a noite, e pequenos grupos de reconhecimento não retornavam de suas missões.

“Precisamos de uma nova estratégia”, disse Ul'ham, estudando o mapa estendido sobre a mesa de guerra. O deserto estava salpicado de marcadores mostrando cidades conquistadas, mas ainda havia grandes áreas desconhecidas, particularmente no centro e extremo leste. “A Liga dos Mercenários não pode ser derrotada por força bruta”.

Ranael assentiu, seu rosto contraído em concentração. Nos últimos dias, a Lâmina da Alma havia permanecido embainhada, sem vidas para colher e sem feridas para curar. Isso o deixava inquieto, irritadiço. “Qual é sua sugestão?”

“Dividir nossas forças”, respondeu Ul'ham. “Mantermos o avanço principal com a maior parte do exército, seguindo esta rota”. Seu dedo traçou uma linha que seguia uma cadeia de oásis conhecidos em direção à próxima cidade grande. “Enquanto isso, destacamentos menores e mais móveis, compostos principalmente por paladinos, podem operar em patrulhas amplas, buscando e eliminando os grupos da Liga um por um”.

A estratégia foi adotada, e nos dias seguintes, os resultados começaram a aparecer. Esquadrões de paladinos, movendo-se rápida e silenciosamente pelas dunas, começaram a localizar e eliminar acampamentos da Liga. Diferente das tropas convencionais, os paladinos podiam operar por mais tempo em condições extremas, sustentados tanto por seu treinamento rigoroso quanto pelas bênçãos divinas canalizadas pelos sacerdotes que os acompanhavam.

O avanço principal recuperou momentum, conquistando três cidades menores em rápida sucessão. Por um momento, pareceu que a resistência dos mercenários havia sido quebrada. Foi então que ocorreu o desastre.

Após semanas de racionamento, o exército finalmente recebeu uma grande remessa de suprimentos. Entre os itens mais bem-vindos estava um imenso rebanho de Aves das Areias — criaturas semelhantes a grandes avestruzes, mas mais robustas, com pescoços mais curtos e cabeças maiores. Sua carne era um alimento básico das populações do deserto, rica em nutrientes e surpreendentemente saborosa quando bem preparada.

O banquete daquela noite foi memorável. Após semanas de rações secas e água morna, os soldados comemoraram com entusiasmo, assando as aves em grandes fogueiras e distribuindo a carne generosamente. Ranael e Ul'ham jantaram juntos em sua tenda, discutindo planos enquanto compartilhavam uma ave inteira e um jarro de vinho raro que havia sido encontrado nas adegas do último governador executado.

Foi na madrugada que os primeiros sintomas apareceram. Soldados acordando com dores abdominais excruciantes, vômitos, febre alta. Inicialmente, somente algumas dezenas pareciam afetados, mas conforme o sol nascia, o verdadeiro alcance do desastre tornou-se evidente. Milhares de homens retorciam-se em agonia, incapazes de se levantar, quanto mais marchar ou lutar.

“Veneno”, confirmou o Sumo Sacerdote de Ygha, após examinar os enfermos. “Misturado à alimentação das aves antes que fossem abatidas. Não é letal para as aves, mas quando sua carne é consumida…”

“Podemos curá-los?”, exigiu Ranael. Ele próprio havia comido a carne, mas a Lâmina da Alma havia neutralizado o veneno em seu sistema imediatamente, sem que ele sequer percebesse.

“Sim”, respondeu o sacerdote, “mas levará tempo. Mesmo com todos os nossos curandeiros trabalhando sem parar, estamos falando de semanas, não dias.”.

O avanço do exército foi forçado a parar completamente. Acampados no meio do deserto, longe de qualquer cidade significativa, as forças combinadas de Nakaran e Ygha encontraram-se em sua posição mais vulnerável desde o início da campanha. Ranael ordenou a construção de fortificações temporárias, usando pedras e madeira escassa para criar um perímetro defensivo ao redor do acampamento de doentes.

Durante as três semanas seguintes, quase nenhum progresso foi feito na conquista do deserto. O exército estava efetivamente imobilizado, com mais de dois terços de suas forças incapacitadas pelo veneno. Os sacerdotes de Ygha trabalhavam em turnos ininterruptos, canalizando energias curativas para os enfermos, mas o processo era lento e exaustivo.

Ranael passou esses dias em um estado de raiva contida, planejando retaliações terríveis contra a Liga dos Mercenários. Ul'ham, por outro lado, demonstrou uma paciência notável, organizando pessoalmente os esforços de recuperação e garantindo que a disciplina fosse mantida entre os soldados ainda saudáveis.

“Como consegue manter a calma?”, perguntou Ranael certa noite, quando ambos estavam sozinhos na tenda de comando, estudando relatórios sobre as condições dos soldados.

Ul'ham levantou os olhos dos pergaminhos. “A paciência não é apenas uma virtude, é uma arma. Os deuses ensinam que todo sofrimento tem propósito.”.

“E qual seria o propósito disso?”, Ranael gesticulou em direção ao acampamento, onde gemidos de dor ainda podiam ser ouvidos.

“Talvez nos ensinar humildade”, respondeu Ul'ham. “Ou talvez apenas nos tornar mais cautelosos. De qualquer forma, transforma essa campanha de uma simples conquista em algo mais significativo — uma provação que fortalecerá aqueles que sobreviverem”.

Ranael considerou as palavras por um momento, então assentiu lentamente. “Você tem uma maneira interessante de ver as coisas, paladino. Começou esta campanha como meu aliado. Agora, quase me considero seu amigo”.

Um leve sorriso apareceu nos lábios de Ul'ham. “A adversidade revela a verdadeira natureza dos homens. E a sua, Rei Ranael, é feita de aço mais puro do que inicialmente pensei”.

Quando o exército finalmente retomou sua marcha, três semanas depois, fez isso com uma determinação renovada e uma cautela recém-adquirida. As lições haviam sido aprendidas ao custo de muito sofrimento: cada remessa de suprimentos era agora minuciosamente inspecionada, cada fonte de água testada por sacerdotes antes do consumo, cada decisão estratégica tomada com maior deliberação.

E assim, mais lento que antes, mas com determinação inabalável, o avanço continuou.

Enquanto o norte era gradualmente subjugado sob o punho de ferro de Ranael, ecos destes eventos começavam a alcançar o sul do continente. Aurora Arcana, com sua extensa rede de comunicação mágica e relações comerciais com Ygha, foi a primeira a receber notícias concretas sobre o que estava acontecendo.

Duas semanas após a queda de Porto do Sol, um mercador arcano retornou à cidade com relatos alarmantes. O Grande Conselho de Aurora Arcana reuniu-se em sessão de emergência na Câmara das Runas, um amplo salão circular cujas paredes eram inteiramente cobertas por símbolos arcanos luminescentes, pulsando suavemente com poder contido.

“Confirmamos que uma aliança militar entre Nakaran e Ygha conquistou Porto do Sol”, relatou Arquimaga Lyria, uma mulher de meia-idade com cabelos grisalhos presos em um elaborado penteado decorado com cristais arcanos. “Nossos informantes falam de um exército combinado de proporções sem precedentes, comandado pessoalmente pelo Rei Ranael e pelo Supremo Paladino Ul'ham.”

Murmúrios preocupados percorreram os doze membros do Conselho. A aliança era inesperada e perturbadora — Nakaran e Ygha haviam sido, na melhor das hipóteses, vizinhos neutros por gerações.

“O mais alarmante”, continuou Lyria, “são os relatos sobre uma arma antiga que Ranael agora possui. Uma espada que parece drenar a vida de suas vítimas para curar seu portador”.

“A Lâmina da Alma”, sussurrou um dos arcanistas mais velhos do Conselho. “Pensei que fosse apenas uma lenda.”

“Lendária ou não, representa uma ameaça significativa”, respondeu Lyria. “Especialmente nas mãos de alguém com as ambições de Ranael. Não devemos nos iludir — a conquista do deserto é apenas o primeiro passo. O norte inteiro será unificado sob seu comando, e depois…”

“Ele virá para o sul”, completou o Arquimago Supremo Hogan, sua voz calma contrastando com a gravidade de suas palavras. Era um homem alto e esguio, com uma barba branca elegantemente aparada e olhos de um azul profundo que pareciam conter constelações inteiras. Como descendente direto de Yampick, o fundador de Aurora Arcana, sua autoridade em questões arcanas era inquestionável. “Precisamos nos preparar”.

Nas semanas seguintes, Aurora Arcana transformou-se em uma colmeia de atividade frenética. O currículo da Academia Arcana foi completamente reestruturado, com ênfase em magias defensivas, de combate e sobrevivência. As torres de vigia ao longo das fronteiras norte do território foram reforçadas com runas de proteção e alerta. Mensageiros foram enviados a Grupta, carregando avisos detalhados sobre a ameaça que se aproximava.

Mais significativa, porém, foi a aceleração do projeto conhecido como a Grande Runa. No topo da torre central do castelo de Aurora Arcana, uma estrutura colossal começou a tomar forma — um círculo arcano de dimensões nunca antes tentadas. Dezenas de arcanistas trabalhavam dia e noite, gravando símbolos complexos em um disco de cristal e rochas especiais, forjado com diâmetro de trinta metros.

“O que exatamente é a Grande Runa?” perguntou um jovem aprendiz a seu mestre, enquanto observavam o trabalho da base da torre.

“Nossa maior esperança”, respondeu o arcanista veterano, seus olhos refletindo o brilho dos símbolos sendo ativados dezenas de metros acima. “Um coletador de energia arcana como nunca existiu. Quando estiver completo, poderá armazenar poder suficiente para proteger toda a cidade — talvez até para projetar essa proteção ainda mais longe.”

“Será suficiente contra um exército como o de Ranael?”

O velho arcanista hesitou. “Terá que ser.”.

Enquanto isso, no norte, a campanha de conquista aproximava-se de sua conclusão. Após quatro meses de avanço implacável, apenas uma cidade significativa permanecia independente no deserto — Cidadela das Águias, assim chamada por sua localização no topo de um afloramento rochoso que se erguia abruptamente das dunas como o ninho de uma ave de rapina gigante.

Cidadela das Águias representava um desafio muito diferente das conquistas anteriores. Suas muralhas não eram feitas de pedra empilhada, mas esculpidas diretamente na rocha viva da montanha. Um único caminho sinuoso levava ao portão principal, expondo qualquer atacante a flechas e pedras por vários minutos de subida vulnerável. Fontes naturais garantiam água potável ilimitada, e armazéns vastos continham suprimentos suficientes para suportar anos de cerco.

Mais importante, era governada por um homem que não conhecia o medo — ou, pelo menos, não demonstrava nenhum. Rei Thazar, um ex-mercenário que havia tomado o poder através de uma combinação de força militar e casamento estratégico, observava o exército de Ranael do alto de suas muralhas com o desdém confiante de alguém que havia sobrevivido a incontáveis batalhas.

“Precisaremos de uma abordagem diferente”, reconheceu Ul'ham, enquanto ele e Ranael estudavam a cidadela a partir de seu acampamento estabelecido a uma distância segura. “Um assalto frontal resultaria em perdas tremendas, mesmo com nossa superioridade numérica”.

“Cerco?”, sugeriu Ranael, embora o desagrado em sua voz fosse evidente. A paciência nunca havia sido seu forte.

“Levaria meses, talvez anos”, respondeu Ul'ham. “E cada dia que passamos aqui é um dia em que o sul pode se fortalecer. Não, precisamos de algo mais… direto”.

A solução veio na forma de uma proposta inesperada. Em vez de atacar massivamente ou estabelecer um cerco prolongado, enviaram uma oferta de parlamento. Rei Thazar, curioso e confiante em sua posição inexpugnável, aceitou receber uma delegação na cidadela — limitada a dez pessoas, todas desarmadas.

“É uma armadilha”, advertiu General Khorsav quando Ranael anunciou sua intenção de liderar pessoalmente a delegação. “Ele vai capturá-lo ou matá-lo assim que estiver dentro das muralhas”.

“Não sou tolo, General”, respondeu Ranael. “Por isso você comanda dez mil homens, não sessenta mil. E por isso”, sua mão descansou sobre o cabo da Lâmina da Alma, “ninguém jamais estará realmente desarmado”,

Na manhã seguinte, Ranael, Ul'ham e oito dos mais habilidosos guerreiros de ambos os exércitos subiram o caminho para a Cidadela das Águias. Conforme acordado, não portavam armas visíveis — embora cada um carregasse adagas ocultas e, no caso dos paladinos de Ygha, amuletos consagrados que poderiam canalizar poder divino em caso de necessidade.

O salão do trono da cidadela era impressionante em sua austera beleza. Entalhado diretamente na rocha da montanha, suas paredes exibiam relevos intricados mostrando grandes batalhas e conquistas. Grandes aberturas nas paredes oeste permitiam que a luz do sol poente inundasse o ambiente com tons dourados, enquanto proporcionavam uma vista espetacular do deserto abaixo.

Rei Thazar aguardava sentado em um trono de metal escuro, adornado com penas de águia reais. Era um homem corpulento, de aparência intimidadora, com uma cicatriz diagonal que cortava seu rosto do supercílio esquerdo até o queixo direito. Seu olho esquerdo, danificado pela mesma ferida que causara a cicatriz, era leitoso e cego. Ao seu lado, dez guardas de elite permaneciam em posição, suas lanças apontadas para o chão, mas prontas para serem erguidas em um instante.

“Rei Ranael”, saudou Thazar, sua voz grave reverberando nas paredes de pedra. “Suas conquistas impressionam. Oitenta e seis cidades e povoados em quatro meses. Um recorde, certamente”.

“Oitenta e sete, em breve”, respondeu Ranael, seu olhar percorrendo o salão, avaliando posições, distâncias, potenciais ameaças.

Thazar riu, um som áspero como pedras sendo arrastadas. “Direto ao ponto. Aprecio isso em um homem. Deixe-me ser igualmente direto: você não tomará a Cidadela das Águias como tomou as demais. Não com assalto, não com cerco, não com truques”.

“Toda fortaleza pode cair, Thazar. É apenas uma questão de encontrar o método correto”.

“Verdade", concordou Thazar, inclinando-se ligeiramente para frente. “Mas estou curioso — o que você oferece? Certamente não veio até aqui apenas para me dizer que vou perder”.

“Ofereço o que ofereci a todos os outros”, respondeu Ranael. “Renda-se, e seu povo será poupado. Resista, e todos perecerão.”

Thazar recostou-se, uma expressão contemplativa em seu rosto marcado por batalhas. “E quanto a mim? Se os outros casos são indicativos, minha cabeça deixará meus ombros independentemente de minha escolha”.

Ul'ham deu um passo à frente. “A morte é inevitável para todos os homens, Rei Thazar. A questão é se ela servirá a algum propósito maior”.

Houve um momento de silêncio no grande salão. Thazar olhou longamente para Ul'ham, depois para Ranael, então para a vasta expansão do deserto visível através das aberturas na parede.

“Servi como mercenário por vinte anos antes de me tornar rei”, disse finalmente. “Vi homens demais morrerem por causas pequenas. Para quê? Para que outro homem pudesse sentar em um trono ligeiramente mais alto?”. Ele suspirou profundamente. “Mas também sei reconhecer quando uma causa está perdida. Digam-me, se eu me render, o que acontecerá com meu povo? Com minha cidade?”

“Viverão sob as leis de Nakaran”, respondeu Ranael. “Pagarão impostos a mim. Servirão em meus exércitos quando convocados. Mas prosperarão sob proteção unificada, sem as constantes guerras tribais e disputas fronteiriças que assolaram o deserto por gerações”.

Thazar considerou as palavras por um longo momento, então se levantou lentamente. Era ainda mais imponente de pé — quase tão alto quanto Ul'ham e mais largo que Ranael. Com passos pesados, desceu os degraus que separavam seu trono do nível onde os visitantes aguardavam.

Quando estava a apenas dois passos de distância, Thazar fez algo inesperado. Ajoelhou-se, abaixando a cabeça em um gesto formal de submissão.

“Eu, Thazar da Cidadela das Águias, rendo-me a você, Rei Ranael de Nakaran”, declarou em voz alta e clara. “Minha fortaleza é sua. Meu exército é seu. Meu povo é seu. Peço apenas por misericórdia para aqueles que nunca tiveram escolha em quem os governava”.

Um murmúrio de surpresa percorreu os presentes — tanto os guardas de Thazar quanto os homens de Ranael. Ul'ham observou a cena com expressão neutra, seu olhar alternando entre o rei ajoelhado e Ranael, cuja mão havia instintivamente se movido para onde normalmente estaria o cabo de sua espada.

Por um momento, pareceu que Ranael poderia aceitar a rendição. Havia algo na dignidade silenciosa de Thazar que inspirava respeito, mesmo em um conquistador impiedoso. Então, o momento passou. Com um movimento fluido, Ranael sacou a adaga oculta em sua manga e avançou.

“Sua submissão é aceita”, disse friamente, posicionando-se diretamente sobre o rei ajoelhado. “Sua misericórdia é concedida — para seu povo”.

Em seguida, ergueu o pé e, com toda a força que possuía, trouxe-o para baixo sobre a cabeça inclinada de Thazar. O som de osso sendo esmagado ecoou pelo salão, seguido por gritos abafados dos guardas. Onde antes havia um rosto humano reconhecível, agora havia apenas uma massa disforme de carne, osso e sangue, pressionada contra o piso de pedra.

Sem hesitação, os guerreiros de Ranael e Ul'ham neutralizaram os guardas chocados antes que pudessem reagir. Em questão de segundos, o salão do trono estava seguro.

Ranael caminhou até o trono e sentou-se nele, passando os dedos sobre os braços de metal onde, momentos antes, haviam descansado as mãos de Thazar. O sangue do antigo rei formava uma poça que se expandia lentamente pelo piso de pedra polida.

“O norte é nosso, Ul'ham”, declarou Ranael, sua voz ecoando no salão silencioso. “Mas isso é apenas o começo”.

Ul'ham aproximou-se, parando ao pé dos degraus que levavam ao trono. “Minha equipe de engenharia estimou que precisará de um mês para completar o caminho através da Floresta de Gariel. Devemos começar os preparativos para a próxima fase”.

“Um mês”, repetiu Ranael, contemplativo. “Tempo suficiente para consolidar nossas conquistas e preparar as tropas. Tempo demais para meu gosto, mas necessário”. Ele se levantou, olhando para o vasto deserto que agora fazia parte de seu reino. “Voltaremos para Nakaran. As tropas merecem descanso e recompensas antes da próxima campanha”.

“E o sul terá mais um mês para se preparar”, observou Ul'ham.

Ranael sorriu, um gesto frio que não alcançava seus olhos. “Que se preparem. Não fará diferença”.

A Grande Cerimônia de Unificação, realizada quinze dias após a conquista da Cidadela das Águias, foi um espetáculo de magnitude sem precedentes em Nakaran. A cidade havia sido completamente transformada para a ocasião. Estandartes vermelhos e brancos pendiam de cada edifício, e as ruas estavam cobertas com pétalas de flores importadas de regiões distantes. Arcos triunfais temporários haviam sido erguidos ao longo da avenida principal, cada um representando uma das principais cidades conquistadas.

No centro da cidade, a grande praça diante do palácio havia sido expandida para acomodar a multidão esperada. Um palco massivo de madeira e pedra ocupava o lado norte, elevado o suficiente para que todos vissem os procedimentos. Milhares de soldados em armaduras polidas formavam corredores perfeitos através da praça, suas lanças e escudos brilhando ao sol da tarde.

Quando Ranael emergiu do palácio, um rugido ensurdecedor ergueu-se da multidão. Vestia uma armadura cerimonial de ouro e platina, com detalhes em rubi e ônix. Um manto vermelho-sangue, bordado com fios de ouro representando suas conquistas, cascateava de seus ombros. A Lâmina da Alma estava embainhada em seu lado, sua presença perceptível mesmo a distância pela aura sutil que emanava.

Ul'ham seguia dois passos atrás, sua própria aparência contrastando drasticamente com a opulência de Ranael. O Supremo Paladino vestia a mesma armadura negra de sempre, sem adornos além dos símbolos sagrados de seus deuses. Seu martelo de guerra estava preso às suas costas, a luz escapando das rachaduras da pedra visível mesmo sob o sol brilhante.

A cerimônia começou com um desfile militar impressionante. Unidades representativas de cada parte do exército combinado marcharam em perfeita sincronia diante da plataforma onde Ranael e Ul'ham estavam posicionados. Veteranos carregando troféus das batalhas — estandartes capturados, armas de comandantes derrotados, tesouros de cidades conquistadas — foram recebidos com aplausos ensurdecedores.

Após o desfile, veio a apresentação formal dos novos governadores. Um por um, os generais e capitães que haviam sido designados para administrar as cidades conquistadas subiram ao palco, ajoelharam-se diante de Ranael e receberam pequenos cetros de comando, simbolizando sua autoridade delegada.

“Estes homens”, anunciou Ranael, sua voz amplificada por trombetas estrategicamente posicionadas ao redor da praça, “são a espinha dorsal de nosso novo reino unificado. Através deles, minha vontade alcançará cada canto do norte, garantindo ordem, prosperidade e força!”.

Quando a tarde começou a dar lugar ao crepúsculo, tochas e lanternas foram acesas ao redor da praça, criando uma atmosfera quase mágica. Servos começaram a distribuir vinho e comida entre a multidão, enquanto músicos posicionados em plataformas elevadas tocavam melodias triunfantes.

Foi neste momento, quando o clima de celebração atingia seu auge, que Ranael fez seu anúncio mais significativo.

“Povo do Norte”, sua voz trovejou sobre a multidão agora silenciosa em antecipação. “Hoje não marca apenas a unificação de nossas terras sob uma única bandeira. Marca o nascimento de algo maior — uma nova era para nosso povo!”

Ele fez uma pausa dramática, seus olhos percorrendo a multidão.

“Por oito gerações, este reino foi conhecido como Nakaran. Mas a partir de hoje, enquanto nos preparamos para estender nosso domínio ainda mais, ele terá um novo nome — um nome que ecoará nos corações de nossos amigos e nos pesadelos de nossos inimigos!”

Ranael ergueu a Lâmina da Alma, que explodiu em luz sobrenatural, iluminando a praça inteira com seu brilho azulado.

 

“DE HOJE EM DIANTE, ESTE REINO SERÁ CONHECIDO COMO RANAEL!”

A multidão explodiu em aclamação. Soldados bateram lanças contra escudos em aprovação ritmada. Fogos de artifício, importados de terras distantes a grande custo, explodiram no céu noturno, pintando a escuridão com flores efêmeras de luz e cor.

Em meio à celebração frenética, poucos notaram a expressão no rosto de Ul'ham. O Paladino Supremo observava a cena com um semblante cuidadosamente neutro, mas seus olhos revelavam uma mistura de emoções — surpresa, desaprovação, talvez até um traço de desapontamento. Quando Ranael se virou para ele, no entanto, Ul'ham já havia mascarado esses sentimentos sob um sorriso educado.

“Uma decisão… ousada”, comentou Ul'ham quando Ranael aproximou-se.

“O homem que construiu este reino merece ter seu nome lembrado pela eternidade”, respondeu Ranael, ainda exultante com a reação da multidão.

“E quanto a seus ancestrais? A história de Nakaran?”

“A história é escrita pelos vitoriosos, meu amigo”. Ranael colocou uma mão no ombro de Ul'ham. “E nós somos os vitoriosos. Agora vamos nos preparar para o próximo passo de nossa conquista. O sul nos aguarda”.

Ul'ham assentiu lentamente. “Sim. O sul nos aguarda”.

Enquanto os dois líderes retiravam-se para o palácio, deixando a celebração continuar sem eles, um mensageiro apressado atravessava os corredores internos, buscando-os com notícias urgentes.

“Majestade”, ofegou quando finalmente os alcançou, inclinando-se em reverência. “Notícias de nossos batedores na Floresta de Gariel. O caminho está praticamente completo. Poderemos marchar através da floresta dentro de uma semana.”

Ranael sorriu, trocando um olhar significativo com Ul'ham. “Perfeito. Informe aos comandantes — começaremos os preparativos imediatamente. O descanso acabou”.

Enquanto o mensageiro partia apressadamente para transmitir as ordens, Ranael encarou Ul'ham. “Você parece preocupado, meu amigo”.

“Apenas pensativo”, respondeu Ul'ham após um momento de hesitação. “O sul será um desafio muito diferente. Especialmente Aurora Arcana”.

“Preocupado com seus antigos parceiros comerciais?”, provocou Ranael, embora seu tom permanecesse amigável.

“Preocupado com a natureza imprevisível do arcanismo”, corrigiu Ul'ham. “Nunca subestime um inimigo que pode dobrar as próprias leis da realidade”.

Ranael bateu no cabo da Lâmina da Alma. “E eles nunca deveriam subestimar um inimigo que não pode ser morto. Venha, vamos planejar a próxima fase de nossa conquista. A Floresta de Gariel nos espera, e além dela…”

“O sul”, completou Ul'ham, seu olhar distante, como se pudesse ver através das paredes do palácio, além da floresta, até os territórios ainda não conquistados.

“O sul”, concordou Ranael, “e tudo o que ele contém.”

 

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Gabriel

Yampick

Elfo Ancestral Mago Arcano

"Um dos pilares da criação de Arcania."

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